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É possível não se perder no próprio universo?



Acho que posso dizer que Wes Anderson é meu diretor favorito, sim eu sei, ele anda meio saturado ultimamente, mas o estilo que ele construiu em seus filmes me fascina.

 

E o que é esse estilo afinal? Quando eu digo isso é provável que apareça na sua cabeça a trend de tiktok de pessoas se colocando em filmes do Wes Anderson com enquadramentos simétricos e tons pastéis facilmente identificáveis, o que eu acho muito satisfatório admito, mas se você assistir os filmes do começo de sua carreira como Rushmore vai encontrar meros traços dessa estética.

 

Seu último lançamento Asteroid City recebeu críticas mistas entre os aplausos por uma complexidade bem executada e uma pergunta que me fez pensar "será que ele está se perdendo em seu estilo?".

 


A história não é lá essas coisas, mas a estética ainda me pega muito (por enquanto) 🙃


As groselhas de hoje não são sobre Wes Anderson, ou não são só sobre ele, mas sobre essa pergunta, o que acontece quando um artista teoricamente se perde no próprio estilo?

 

Ainda no âmbito do cinema acho que o maior exemplo desse fenômeno seria Tim Burton. Eu assisti e me apaixonei pela obra dele minha infância e adolescência inteira, fui inúmeras vezes em sua exposição quando esteve no Brasil. Mas ao mesmo tempo vi sua carreira minguando e se diluindo a cada novo filme lançado no decorrer dos últimos anos.

 

Acho esse um caso curioso, pois além cineasta ele também era um artista plástico fantástico. Quando vemos sua produção dos anos 80 são uma mistura única de sua estranheza, com efeitos práticos, histórias nonsenses, tudo isso criando universos muito únicos como em Beetlejuice e Edward Mãos de Tesoura.

 

Com o tempo sua produção se torna um fenômeno cultural, ele é "adotado" pela Disney e bom, acho que é onde o problema começa.

 

Os primeiros 20 anos de carreira são sobre exploração, ele faz filmes óbvios dentro de sua estética como os citados acima, mas outros bem mais experimentais como Ed Wood. Mas a partir do momento onde seu estilo se torna uma marca facilmente reconhecível a cada novo filme parecia uma cópia de seu próprio estilo anterior.



 

Quando a marca "Tim Burton" é criada as pessoas e principalmente os produtores esperam algo muito característico de seu trabalho. Então se antes ele se inspirava em filmes B, contos pulp e terror, sua inspiração passa a ser sua própria obra, gerando um paradoxo criativo.

 

A realidade é que a arte exige experimentação. Mas a partir do momento que seu nome se torna tão grande que vira uma estética própria na cabeça das pessoas onde ainda é possível ir?

 

Existe a teoria que isso está acontecendo com Wes Anderson nesse momento, mas apenas os anos dirão. Com Tim Burton consigo ver respiros do seu trabalho como na excelente biografia lançada em 2018 Big Eyes que conta seu estilo em sutilezas, mas se prova um ponto fora da curva dado os últimos lançamentos como "Dumbo" e "Beetlejuice 2".

 

Embora eu tenha dado exemplos do cinema, é fácil ver isso acontecendo em outras áreas artísticas, como em bandas que os novos lançamento são mais do mesmo e artistas visuais que estão eternamente se reciclando.

 

Mas eu queria fechar esse texto com um exemplo inverso, alguém que depois de anos de uma carreira consolidada se reinventa totalmente.

 

Henry Matisse é um conhecido pintor Francês do começo do século XX. Ele se tornou uma referência no que ficou conhecido como Fauvismo, uma estética que priorizava pinturas com cores fortes e formas distorcidas.

 

Aos 70 anos a obra de Matisse já era reconhecida e aclamada pelo público e pela crítica. Então ele se reinventou, não por um objetivo criativo pessoal, mas sim por limitações físicas.

 

Após graves problemas de saúde Matisse não conseguia mais pintar, a partir daí ele desenvolve trabalhos apenas com colagem de papel. Os últimos anos de sua vida foram marcados por trabalhos totalmente diferentes onde ele usava sua experiência no Fauvismo para criar obras que criaram um estilo novo, próprio e característico.


Mural "A Piscina" de 1952

 

Gosto muito dessa história por que nela vejo as possibilidades infinitas do fazer artístico. Mas é claro que essa liberdade vem somente com um patrocínio pessoal. O problema principal desses artistas citados anteriormente é não somente a expectativa do público, mas as enormes quantias de dinheiro envolvidos no seu trabalho, como se reinventar quando milhões estão em jogo pela sua visão criativas?

 

Mas voltando ao mundo de nós reles mortais, acredito que esse seja um questionamento que todos que mexem com arte no geral precisam se fazer em algum ponto, será que estamos nos perdendo no nosso próprio universo e na nossa própria cabeça? As vezes ir atrás de novas referências e contextos é essencial pra continuar criando e porque não se reinventando sempre que possível.

 


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