Esse é uma espécie de continuação não oficial lá do post de retrofuturismo, se bem que uma parte bem grande da minha vida também é.
Queria falar um pouco sobre fotografia por conta da minha obsessão mais recente por Digicams e aproveitar para discorrer várias groselhas sobre tecnologia criativa.
Eu sempre adorei câmeras analógicas, tenho algumas por aqui, acho o design super bonito e as fotos tem uma estética que gosto muito. Infelizmente esse é um hobbie CARO, os filmes mais baratos hoje em dia custam por volta de R$50, fora a revelação, na minha cidade não tem onde revelar, então ainda teria os custos e o tempo dos correios. Em resumo é um tanto inviável.
Polaroid 635 CL - A câmera analógica mais bonita da minha coleção, mas que também é inútil, pois cada filme é uma pequena facada
Recentemente os xófens trouxeram de volta as câmeras digitais tão populares nos anos 2000, em tempos pré smartphone. De início não dei muita bola, porque, peço desculpas a geração Z, a estética anos 2000 não me atrai muito. Mas pesquisando um pouco mais descobri todo um mundo de experimentação e eletrônicos diferentões a ser explorado.
A experimentação eletrônica
Para quem não tava lá os anos 2000 foram peculiares. Eu não sou muito nostálgica quanto a essa época, embora eu entenda quem é, nossa economia estava com tudo e a internet ainda era um lugar bonito. Mas se tratando de estética, foi um momento de muita experimentação, nem todas necessariamente boas.
Durante todo o século XX os anos 2000 foram tidos como "o futuro", era basicamente um sinônimo de modernidade. Casas na lua, colonização espacial, carros voadores, chamadas de vídeo e comunicação em tempo real, já deu para perceber que, fora os dois últimos, a gente fracassou um pouco nessa parte. Porém, na virada do século ainda existia essa esperança de modernidade.
Tinha também o medo do bug do milênio, mas quando todo mundo viu que o mundo não acabou a esperança tava lá. Foi então que os designers, o mercado de eletrônicos e os estilistas se entreolharam e pensaram "caramba, estamos no futuro, e agora?"
E assim começou a estranha, mas ao mesmo tempo fascinante estética do começo do século XXI. Uma busca pela construção de uma modernidade tão sonhada e ao mesmo tempo uma grande experimentação para descobrir como era esse futuro. Roupas prateadas? Objetos metalizados? Celulares com designs nada funcionais? Sim! Bom, na verdade mais ou menos.
Ah sim claro, O FUTURO
A realidade é que boa parte dessas experimentações não chegou no grande público, muito menos no Brasil. A maioria dos adolescentes dos anos 2000 só conheceu, quando muito, estantes de computador bege com computadores Positivo, daquele branco encardido. No máximo um Sony Ericson, que eu particularmente acho que dá uma surra em qualquer aparelho atual.
Contemple o poder
Porém, nas revistas de tecnologia e nos finados tabloides o futuro era agora. A cada semana apareciam celulares com designs experimentais chiquérrimos, os MP2, 3, 4, 5 que eram o ápice da tecnologia e câmeras digitais com resoluções incríveis (5mb). Todo esse cenário nos presenteou com um mar de experimentações tecnológicas únicas e, voltando ao tópico original desse texto, a fotografia foi uma das mais afetadas.
Liberdade digital
Tirar fotos antes dos anos 90 era, para dizer o mínimo, caótico. Fotos eram caras, trabalhosas e limitadas, reservadas quase exclusivamente para momentos importantes. Uma viagem por exemplo podia contar com um rolo de filme de 36 poses, 36 cliques que precisavam ser muito bem aproveitados para capturar o mais importante. Depois ainda tinha a revelação, onde muito provavelmente metade daquelas fotos teria problemas de exposição ou enquadramento, conseguir boas fotos de viagem dependia da habilidade do fotógrafo (geralmente alguma tia que sempre cortava a cabeça de alguém) e de sorte.
Pilhas e mais pilhas de álbuns de fotos
A chegada das câmeras digitais mudou tudo. A Sony Mavica foi uma das primeiras a conquistar o grande público, ela utilizava disquetes que comportavam cerca de 20 fotos cada, parece pouco, mas é um salto gigante poder ver suas fotos (ainda que com uma qualidade questionável) simultaneamente, além poder levar vários disquetes, aumentando muito as possibilidades.
A evolução das câmeras foi extremamente veloz. A primeira versão da Mavica foi lançada em 1997, nos anos seguintes ouve uma versão com mini CDs e logo começaram a surgir as primeiras câmeras digitais com cartões de memória e com uma qualidade de imagem que se comparava as analógicas.
Se quiser saber mais sobre a Sony Mavica deixo a recomendação do vídeo do 8-Bit Guy que explica detalhadamente sua história, aliás o canal dele é incrível.
Foi nesse período entre o surgimento da fotografia digital e o aparecimento de smartphones com câmeras potentes que tivemos a experimentação. Ainda não se sabia como câmeras digitais deveriam parecer, cada empresa lançava aparelhos com diferentes funcionalidades sem saber o que exatamente atrairia o público, um cenário que gerou muita coisa surtada.
Um oceano imagético
Com o surgimento dos smartphones com câmera as digicams se tornaram rapidamente obsoletas, sumindo dos holofotes durante os anos 2010. Porém, nos últimos tempos houve o resgate da moda dos anos 2000 e as câmeras compactas vieram junto nesse pacote de nostalgia e moda.
Mas afinal, porque usar câmeras compactas em um mundo de smartphones?
Aparentemente para o jovem existe uma "aesthetic" que envolve as fotos de baixa resolução e tudo relacionado aos anos 2000. Vejo isso quase como uma contracultura, um ato de rebeldia frente a uma era de Instagram, onde tudo é filtro e imagens perfeitas.
Um pouco do Y2Ks aesthetic
Mas eu claramente não sou jovem, então vim aqui falar do porque eu entrei nesse mundo. Primeiramente por toda a experimentação, como eu menciono no post de retrofuturismo, a tecnologia atual é chata, acredito que eletrônicos dos anos 2000 foram o último resquício que tivemos de criatividade tecnológica, as câmeras são um ótimo exemplo disso com modelos absolutamente diversos e divertidos, que entretinham através de designs inovadores.
Em segundo lugar, tem um fator que apelidei de "Oceano Imagético"..
O meu celular hoje tem cerca de 2 mil fotos na galeria, elas vão desde lembretes, fotos de plantas, insetos e as vezes memórias. O problema é justamente que aquilo que é realmente importante se perde totalmente na bagunça cotidiana.
Para mim a câmera é um resgate no registro desses momentos únicos, um espaço de registrar só o que vale a pena de verdade, sem filtros nem interpolação. Sei que muitos vão para a fotografia profissional para isso, mas eu nunca tive saco de aprender, enquanto a fotografia analógica era dispendiosa demais, então acabei me encontrando no mundo mágico e questionável da câmera compacta.
Queria finalizar esse post com alguns dos meus modelos favoritos de câmeras diferentosas. Infelizmente os anos 2000 já começaram a sofrer de uma das coisas mais irritantes do mundo atual que é a obsolescência programada. Hoje em dia é muito mais fácil encontrar câmeras analógicas dos anos 70 em perfeito funcionamento do que câmeras digitais, por isso muitos modelos são difíceis de encontrar em bom estado e muitas vezes caros, mas fica o sonho.
Sony Cyber shot DSC (vários subtipos)
A clássica, o modelo mais popular no Brasil, com várias cores (normalmente metalizadas) e que mais se popularizou entre os jovens no resgate dos anos 2000
Polaroid PDC 5070
A Polaroid, vendo seu mercado minguar, se aventurou brevemente no mercado de câmeras digitais. A empreitada não deu muito certo, as câmeras nunca tiveram muita qualidade e a empresa faliu em 2008. Ainda assim, gosto muito do design dos primeiros modelos, infelizmente essas câmeras tinham uma bateria interna que era impossível substituir, então as que se encontra no mercado hoje são, em sua maioria, inutilizáveis.
Nikon Coolpix SQ
O ápice do design inútil, apenas perfeita. Tem um sistema complexo de virar a lente ao redor da tela, infelizmente essa legalzisse toda tem seu preço e hoje é bem dificil de ser encontrada.
Sony DSC-F77
Mais uma com um design único, todos em busca do sonho da Selfie perfeita.
Genius G-shot HD520
Ela é metalizada, ela abre, ela filma, convenhamos nada mais futurista do que essa filmadora (deixo um salve para a Tecpix).
Fujifilm Finepix 4800Z
Essa quadradinha da Fujifilm tem uma mini tela interativa com os menus que contava até mesmo com jogos, não dá para ser mais legal do que isso
Canon Power Shot A620
Essa é da minha coleção e meu xodó. Ela vem com uma história curiosa, achei ela no Marketplace do Facebook por R$70, o vendedor disse que tinha sido esquecida no banco de trás de um Taxi, ela está em condições muito boas e funciona perfeitamente. É um modelo muito avançado para a época com uma tela móvel que permite tirar selfies.
Se tiver se interessado pelo assunto deixo a dica do canal One Month Two Cameras sobre Digicams, esse vídeo aqui é uma ótima intro sobre e ela tem também um Instagram onde posta fotos com modelos variados.
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