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Retrofuturismo e a beleza das imperfeições



Os anos 90/2000 foram um momento muito peculiar de se crescer, quem foi criança e adolescente nessa época cresceu em meio ao avanço da cultura digital. Eu sou de 97 e me lembro de ver essas transformações e conviver ao mesmo tempo com toca-discos, toca-fitas, discman e mp3 player. Enquanto os mais velhos lutavam pra compreender a tecnologia, os mais novos não conseguiam pensar em um mundo sem ela.

Não sei se foi só por estar imersa nessa mudança, mas ambos sempre me fascinaram. Tive computador desde muito cedo, cresci com internet, tive vários celulares, os primeiros smartphones e muitas redes sociais. Mas ao mesmo tempo ficava hipnotizada pela vitrola da minha avó, sempre quis uma máquina de escrever e a antiga câmera de filme da família era a decoração favorita do meu quarto.



A câmera ainda decora minha estante

Veja bem, aqui não quero cair na máxima hipster de "nasci na época errada" ou "antigamente era melhor". Hoje eu vim falar groselhas sobre Retrofuturismo, na verdade minha concepção dele.

A estética Retrofuturista se refere a várias coisas, se você pesquisar no Pinterest vai encontrar uma miscelânea de imagens misturando recortes "vintage" e elementos "futuristas". Porém, aqui me refiro ao Retrofurismo nascido nos anos 50/60, uma estética que surge dos avanços técnicos e científicos desenvolvidos nessa época para imaginar um mundo futuro. Existe muito material com essa temática ilustrações, livros, séries e filmes, Os Jetsons são um ótimo exemplo.



Eu sou pessoalmente apaixonada por essa estética. Acho fantástico ver essas idealizações de um mundo futuro estando nele e ver que, bom, ele não é tão interessante afinal. Tudo bem, a tecnologia é muito legal, eu realmente posso trabalhar da minha casa e fazer vídeo chamadas, mas cadê o charme? Porque tivemos que perder os eletrodomésticos coloridos que duravam uma vida, os eletrônicos com designs inovadores para ganhar a praticidade? Em resumo, eu acho entediante estar em um futuro incrível e rodeada por tecnologias futuristas, mas tudo se resumir a telas e interfaces.

Já vi muita gente questionado por que colecionar vinil, porque gravar fitas ou porque tirar fotos com filmes analógicos. Existem aqueles que ressaltam as qualidades inerentes dessas mídias frente as digitais, mas aqui devo minhas desculpas aos aficionados, pois eu tenho uma explicação muito mais simples: Seres humanos amam processos. Porque me dar ao trabalho de garimpar, limpar e colecionar vinis, sendo que posso ter o mesmo resultado digitalmente? Por que é divertido, sentir as capas, o peso, o cheiro, achar aquele artista que você ama, é tudo parte de uma experiência que eu realmente acho que a tecnologia nos tira.

Então a resolução é abandonar tudo e voltarmos a nos comunicarmos por carta? Óbvio que não, aqui entra a minha filosofia pessoal Retrofuturista. Eu acredito que podemos fazer uma inversão da ideia original, recuperar o que era bom no passado e mesclar a tecnologia atual, tornando a tecnologia mais interessante e melhorando boas ideias (seria futuro retroativo? Fica o questionamento).

Aqui vou precisar fazer uma propaganda gratuita, mas acho que vale. Há alguns anos eu comprei o meu eletrônico favorito e acredito que ele exemplifique a ideia muito bem. A Divoon é uma empresa que faz eletrônicos diferentões e o produto mais popular deles é o Ditoo, uma caixa de som que imita um mini computador, com botões mecânicos e um display de 16 pixels que te permite colocar uma infinidade de pixelarts na tela. E sendo sincera, ele é o produto retrofuturista perfeito, tem a qualidade de uma caixa de som com bluetooth e um aplicativo dedicado, mas com um design retrô lindo e uma tela que remete ao estilo de pixelart desenvolvida nos vídeo games dos anos 80.



Desenhando uma fonte pixelada pelo tablet no Ditoo

Também tenho um exemplo pessoal de retrofuturismo que é meu hobbie de gravação de fitas K7. Recentemente comecei a gravar minhas próprias fitas, eu compro álbuns pelo Bandcamp (apoiem o artista independe galera), imprimo a capa, ligo meu notebook na vitrola e gravo em fitas velhas. "Mas o áudio das fitas K7 é ruim, é muito melhor ouvir no computador" esse é o ponto, existe beleza nas imperfeições! O digital ele sempre caminha para a perfeição, tirar a foto perfeita, um áudio limpo e claro, o que é incrivelmente prático e útil, mas eu realmente acredito que existe beleza no inesperado, no áudio com ruído, nas fitas que compro e vem com gravações de outras pessoas, Esses processos tornam as experiencias mais interessantes.



Fita do Macross 82-99 (um city pop show) gravada em casa.

A capa tem laminação holográfica

Esse é um breve resumo das minhas divagações retrofuturistas, que abrangem não somente tecnologia, arquitetura e hobbies, mas também conhecimentos e cultura. É importante recuperar o que foi bom (pois parece que a humanidade teima em rememorar só o que não presta), valorizar os processos e usar o novo para melhorar, mas apreciando as imperfeições, porque a perfeição é muito chata.

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