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resenha ilustrada: lovestar


A ilustra que fiz desse livro só fará sentido nas últimas páginas, mas garanto que é uma cena muito boa


Preciso começar essa resenha dizendo que esse não é um livro para todo mundo. Não é um desafio nem nada do tipo, é só ver as resenhas no Skoob, mas mesmo assim eu precisei escrever sobre ele, porque é um dos meus favoritos dos últimos anos.

Começando por uma sinopse rápida, Lovestar fala sobre um futuro distópico onde o fundador de uma grande corporação inventou uma fórmula capaz de calcular o par perfeito de qualquer pessoa, o livro começa quando um casal profundamente apaixonado descobre que não é compatível e entram em uma crise contra o sistema.

Porém, essa sinopse diz muito pouco sobre o livro, sim essa é a temática central, mas se fosse vender ele para alguém eu diria que é uma história com um humor ácido sobre uma distopia futurística do marketing, extremamente irônica e bastante surrealista.

A história do casal central e da tecnologia inventada por Lovestar (o tal fundador excêntrico) é sim o pano de fundo, mas o que se desenrola sobre ele é muito mais interessante. Aqui todos possuem um chip que projeta imagens e reproduz sons diretamente no cérebro. A partir do momento onde as telas não estão mais apenas nas mãos, mas são o mundo em si, o marketing domina tudo.

O mundo de Lovestar é uma hipérbole, um mundo onde produtos dominaram todos os aspectos da vida. Os chamados pregoeiros por exemplo são pessoas endividadas que são obrigadas por seus chips a gritar nas ruas propagandas de empresas, se tornando "comerciais ambulantes" para pagar por suas dívidas. Enquanto aqui Influencer ganha um novo significado, pois todos que você conhece podem estar tentando te vender algo o tempo todo, sem você saber.

Esses conceitos e vários outros são utilizados para criar esse universo que poderia ser chamado de Cyberpunk, mas acredito que se crie até mesmo uma nova terminologia para algo como "Marketingpunk" dado que aqui a tecnologia é somente a ferramenta no qual o marketing atua.

Talvez nessa altura dado o uso do termo distopia você pode estar pensando em autores como Philip K. Dick ou Ursula K. Leguin. Porém, acho necessário ressaltar que Lovestar é antes de tudo um livro extremamente engraçado. Não digo que ele conte várias piadas, aqui é um humor baseado em situações irônicas e acima de tudo trágicas, quem já leu Douglas Adams ou Terry Pratchet vai entender o que quero dizer. Aqui o humor é totalmente baseado no nível de desespero.

Eu tenho pensado muito nesse livro a cada dia que vejo as propagandas tomando mais conta da nossa vida, o quanto tudo que consumimos está em volto nelas. Como o tempo que gastamos em redes sociais, vendo atualizações de amigos e familiares, cada foto ou momento intimo é entrecortado por uma produto. As músicas, os vídeos, as séries, os jogos, os sites todo esse conteúdo é banhado em propagandas, óbvias ou não. Todas tentando te convencer, tentando ligar momentos e sentimentos seus a produtos e preenchendo a cada dia que passa uma quantidade cada vez maior do nosso tempo.

Eu gosto muito de ficção cientifica e distopias, já li muita coisa. Então é bem estranho pensar como que a distopia que mais enxergo no meu dia a dia é a mais surreal e absurda dos mundos. O que acaba com tudo não é uma guerra ou um apocalipse e sim uma epitome do marketing e o Mickey Mouse. Mas bem que Douglas Adams já nos avisou, nada faz sentido e o universo é todo uma grande ironia

Então se você quer dar risadas levemente desesperadas e se deparar com situações absurdamente geniais, mas infelizmente bastante verossímeis leia Lovestar.



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