Eu sempre quis viajar, lembro de quando tinha uns 12 anos eu já imaginava como seria pegar uma bicicleta e só ir reto pra ver até onde dava pra chegar. Ainda assim eu nunca fui particularmente aventureira, maior parte da vida eu estudava em período integral ou trabalhava e estudava, então nunca me sobrou muito tempo pra aventuras. Mas mesmo sem tanta experiência aquela vontade inicial ainda existe, eu ainda queria pegar uma bicicleta e só ir reto, não exatamente assim porque eu sou bem sedentária, mas algo próximo.
Em 2022 já tinha feito com o Mayke um teste onde nós passamos um mês trabalhando remotamente enquanto viajamos. Alugamos um Airbnb na ilha de Itamaracá em Pernambuco e passamos um mês conhecendo os arredores, explorando e passando calor, muito calor. Foi incrível, teve seus perrengues é verdade, mas foi uma experiência única, deixo um salve principalmente pro sistema de transporte público de Pernambuco que tornou tudo isso possível.
Chegou 2024 e decidimos que era a hora de planejar essa grande viagem e passar 2025 conhecendo o Brasil. Veja bem, eu amo minha casa e minhas coisas, mas a realidade é que eu nunca vou conseguir sossegar enquanto não vir onde consigo chegar.
Dito isso nesse post eu queria falar groselhas sobre algo que fiz muito esse ano que é organização de viagem. Sei que existe essa ideia de liberdade, pegar uma mochila, duas camisetas e ir conhecer o mundo, mas eu definitivamente não sou essa pessoa. Passei esse último ano pesquisando, listando, comprando e pensando exaustivamente em todos os minis detalhes dessa viagem e nesse post vou compartilhar um pouco das minhas neuroses com vocês.
Listas, listas e mais listas
Meu hiperfoco em organização de viagem acarretou em muitas, muitas listas. Coisas pra comprar, coisas pra levar, coisas pra fazer, lugares pra visitar, lugares pra visitar antes de viajar e muitas outras.
Então uma dica que dou é tenha uma agenda, ou aplicativo, um programa ou o que quer que seja onde você possa juntar todas essas coisas. No meu caso eu uso o Onenote pra organizar minha vida, então criei um caderno nele com várias abas onde em cada uma organizo um aspecto do que preciso fazer e vou ticando o que já foi feito, o que além tudo dá uma ótima sensação de trabalho feito.
Todas as suas coisas em uma mochila, ou não
Acredito que o primeiro questionamento a se fazer quando se planeja uma viagem sem data de volta, antes mesmo do roteiro desejado é “o que fazer com as minhas coisas?”
Se você ainda mora com seus pais ótimo, seu quarto vai ficar lá enquanto você viaja, nenhum problema aqui. Mas e quando você já tem uma casa montada? Adianto que existem algumas opções:
A. Se você for o feliz proprietário da sua casa fechar as portas com tudo dentro e um abraço
B. Dar fim em todas as suas posses mundanas pois você é uma pessoa livre das amarras do capitalismo
C. Alugar um depósito pra despejar suas quinquilharias e pagar isso enquanto viaja
D. Contar com o espaço vago na casa de parentes solícitos
Considerando que como todo não tão jovem assim adulto estou a quilômetros de uma casa própria e que eu tenho um parentesco distante com os corvos e amo acumular coisas brilhantes, sobraram somente as duas últimas opções. Pensei em alugar um depósito, mas os preços são algo próximo do m² no prédio mais chique do Panamby, então nos restou a última opção.
Aqui já adianto que eu nunca cheguei a mobiliar nossa casa com, digamos, móveis tradicionais. Como sempre pensei em viajar os meus móveis são majoritariamente constituídas por caixotes de feira reaproveitados e uma mala antiga que achei na rua. A escrivaninha que estou escrevendo nesse momento, por exemplo, são tábuas reaproveitadas de um antigo guarda-roupas. Então é verdade que eu não tenho uma sessão inteira da Casas Bahia pra estocar, por isso o quartinho da bagunça caridosamente cedido por nossos parentes vai ser suficiente pra guardar minha geladeira idosa, minha coleção de vinis e a caixa com cacarecos que achei dentro de livros velhos.
E o que efetivamente vai na mochila?
Esse é um assunto complicado.
Existem vídeos bem legais de viajantes experientes que dão ótimas dicas do que levar como esse aqui, isso já dá uma boa noção do que é essencial em um mochilão.
Porém, no final a sua mochila é uma questão inteiramente pessoal e depende muito de você e das suas prioridades. Talvez seja incrivelmente necessário pra você um coador de café ou um travesseiro específico.
Eu precisaria de um post inteiro (que talvez role futuramente) pra descrever a complexidade da minha mochila de viagem, mas já adianto algumas coisas como uma prensa de flores, uma pelúcia de gato da Daiso, uma serra japonesa e tintas de cabelo arco-iris, sim todos são fundamentalmente essenciais.
Pra onde ir?
Por mais neurótica que eu seja na minha organização ironicamente essa é uma pergunta dificil de responder.
É muito simples fazer um roteiro de uma viagem de um mês. Mas e quando você pode passar anos viajando? Fazer um roteiro detalhado pode te trazer mais ansiedade em cumprir todos os prazos do que não fazer nenhum.
Então aqui nós trabalhamos de uma forma mais ampla.
Comece escolhendo um tipo de viagem: internacional, nacional, pra qual país ou conjunto de países. Isso vai te dizer o tipo de organização que você vai fazer, se vai precisar de passaporte, visto, vacina etc.
No meu caso nós vamos conhecer o Brasil, parece mais simples por causa do idioma e por já conhecermos a cultura, é verdade, mas a viagem nacional tem alguns problemas. Começando com as distancias, o Brasil é grande, muito grande e tem um péssimo sistema de transportes, então boa parte da pesquisa envolveu descobrir como se locomover e isso vai ser um desafio ao longo de todo o trajeto.
Defina metas, mas nem tantas
É legal definir algumas metas pras suas viagens, como eu amo mapas eu criei o “mapa de exploração geográfica” no My Maps onde eu demarquei todos ponto que eu tinha interesse em conhecer. Isso não significa que eu vou em todos eles, é legal ter um planejamento pra te guiar, mas também é importante deixar que a viagem de te leve pra lugares que você nunca imaginou.
Que tipo de viagem você quer fazer?
Essa é outra pergunta fundamental, talvez mais do que o destino. Viajar sim, mas qual tipo de viagem?
A. Você pode ir no modo hippie, pegando caronas e fazendo voluntariado sem grana nenhuma
B. Ir no modo mochilão low cost, tem um pouco de dinheiro guardado e consegue alguns bicos pelo caminho, mas vai economizar ficando em lugares mais simples e caçando passagens baratas
C. Guardar uma boa grana e só se hospedar em hotéis caros, viajar de avião e pagar guias turísticos
D. Conseguir um trabalho remoto flexível e trabalhar enquanto viaja, pagando pelo estilo de vida que seu salário proporcionar
O meu caso é o último, eu e o Mayke temos trabalhos remoto / somos freelancers e vamos viajar com o nosso mini escritório na mala, alugando um lugar em conta e trabalhando de lá.
Diferentemente dos outros estilos onde a duração da viagem é ditada pela sua reserva financeira (ou sua sorte em conseguir voluntariados e bicos) o nomadismo digital tem como vantagem proporcionar uma entrada constante de dinheiro pra se manter, porém nesse caso você não está “de férias” a sua vida acontece normalmente enquanto se conhece novos lugares.
Então sabe aquele peixe de R$150 na praia que você se deu de presente ou o passeio caro que você tinha que fazer porque eram suas férias? Ser nômade digital demanda um pouco de autocontrole nesse ponto, seus gastos devem ser os mesmos de quando você não viajava ou o cartão de crédito vai chegar em um ponto insustentável em algum momento.
E por mais atrativo que esse estilo de vida seja é preciso lembrar que você ainda tem que trabalhar. Então sim é incrível poder conhecer lugares novos, mas lembre-se que você vai perder muita coisa ficando online, raramente vai ter um escritório ergonômico e vai precisar se limitar a lugares com wi-fi nas suas estádias. Então dependendo das suas demandas e do autocontrole talvez um mochilão lowcost por exemplo valha mais a pena.
Como se locomover
Outro fator que vai impactar diretamente o seu tipo de viagem é como você pretende se locomover, algumas opções disponíveis são:
A. Avião
B. Carro ou moto particular / alugado
C. Bicicleta
D. Motorhome
E. Ônibus
F. Trem
G. Carona
H. A pé
Obviamente muitos desses meios podem ser misturados ao longo da viagem, mas digamos que você escolha viajar com veículo particular, se for pelo Brasil vão ser muitos dias percorrendo estradas dirigindo e gastos exorbitantes com gasolina, além precisar se preocupar com estacionamento, mas existem lugares que você só vai conseguir conhecer dessa forma.
Se optar por uma viagem internacional um avião vai ser inevitável, nesse caso é necessário se preocupar com o que você leva na mala e se for do tipo acumulador (como eu) vai precisar despachar bagagem.
Existem muitos viajantes que decidem ir de bicicleta ou mesmo a pé, esses dois vão depender inteiramente da sua disposição física.
Também já peguei e provavelmente vou usar muito o bla bla car pelo caminho, mas a realidade é que jamais teria a coragem de pegar caronas sozinha, embora muitas viajantes não tenham esse problema.
Eu optei por viajar de ônibus e trem sempre que possível, esses meios têm a vantagem de não precisar de preocupar com a estrada e poder levar uma mala com muito mais descontrole pessoal, mas é verdade que a logística de lugares e horários as vezes é bem complicada.
Onde ficar?
A escolha do estilo de viagem impacta diretamente no tipo de estádia, pois existem muitas opções pra bolsos e estilos de vida
A. Hotéis: A opção mais cara, mas possivelmente mais confortável
B. Hostels: Uma opção barata se estiver sozinho, possibilita conhecer pessoas (se você for sociável)
C. Acampamento: Boa opção se você for aventureiro, mas demanda levar uma boa quantidade de equipamento
D. Airbnb: Pode ser econômica pra casais e grupos, é interessante pois você consegue ter mais liberdade e privacidade
E. Voluntariado: Plataformas como o worldpackers oferecem voluntariados de trabalho em troca de hospedagem
F. Couchsurfing: Literalmente “surf em sofás” uma plataforma onde você não paga nada pra se hospedar na casa de pessoas ao redor do mundo
No nosso caso o meio principal de viagem é o Airbnb, uma curiosidade é que alguns anfitriões da plataforma oferecem preços promocionais para estádias de um mês ou mais, fazendo com que o valor se equipare a um aluguel comum, isso economiza muito e te dá tranquilidade por um mês inteiro da viagem.
Outra opção que vamos testar é o Worldpackers, a plataforma onde você consegue se voluntariar em diversos tipos de trabalho em troca de hospedagem e passeios. O interessante nesse caso é estar aberto pra novas experiências, mas no caso do nomadismo digital precisa de um pouco mais de jogo de cintura pra equilibrar todas as tarefas.
Considerações
No final por mais que se planeje, pesquise e considere o imprevisível é inevitável, viajar é justamente sobre abandonar um pouco a previsibilidade e abraçar o caos a medida do possível. É claro que um bom planejamento faz tudo mais fácil, mas é importante saber que vão acontecer coisas boas, coisas ruins, coisas malucas e coisas que você nem achou que fossem fisicamente possíveis, frente a tudo isso o mais importante é sem nenhuma dúvida, como diria Douglas Adams, não entrar em pânico.
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