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O delicioso mar de variedades da mídia física




Eu amo as possibilidades da mídia física. Adoro a mágica que consiste em tornar algo imaterial como um filme ou um álbum de música, em uma materialidade que transmita a essência daquela obra em algo palpável, com toque, cheiro e ritual de uso.

 

Como já mencionei no post sobre retrofuturismo, acredito que a vivência humana se baseie muito em processos. Ouvir a música em um streaming, por exemplo consiste em uma experiência sonora, enquanto garimpar um vinil que você queria muito em um sebo por horas, chegar em casa, limpar, e botar pra tocar enquanto analisa o encarte e acompanha as letras consiste em algo diferente.

 

Claramente em ambos os casos o resultado é o mesmo, ouvir música, talvez até em uma qualidade pior no segundo, mas a experiência resultante do vinil vai ser muito diferente, unicamente pelo valor que você atribuiu aquele ato. Eu particularmente acho isso fantástico, não há nada mais humano do que dificultar um processo unicamente pelo prazer da experiência de executar aquela tarefa.

 

Eu estava pensando nisso recentemente, em toda variedade e possibilidades que a mídia física nos proporciona, as tecnologias, os formatos e as experiências únicas de cada uma. Me limitando somente a categoria sonora, por exemplo, existe uma infinidade de formatos que já foram criados unicamente para executar a tarefa de ouvir música, alguns mais populares como vinil e outros menos como o mini disc.

 

Deixando de lado o conceito de evolução tecnológica, eu acredito que todos eles tenham o seu uso. Cada um possui suas particularidades materiais e estas se relacionam diretamente com a obra contida ali. Por isso nesse post eu queria fazer uma homenagem e falar várias groselhas sobre o mar de variedade da mídia física, sonora nesse caso, mas quem sabe não rola uma parte dois futuramente.


O Vinil



Algumas curiosidades legais

 

O vinil é uma das formas populares mais antigas de se gravar áudio. Eles evoluíram de bolachões pesados no início dos anos 1900 pra discos finos, podendo contar com uma infinidade de cores e até acabamentos mais experimentais.

 

O vinil moldou a música como conhecemos hoje. A criação do conceito de álbum de música, ou seja, um conjunto de canções do mesmo ou de vários artistas que possuem uma conexão temática entre si e podem ser vistas como uma unidade foi criada em função da tecnologia do vinil. Assim como a duração padrão dos álbuns que segue a minutagem de um LP.

 

O próprio conceito de capa de disco como um catalisador daquela unidade foi algo moldado com o tempo, no começo os discos vinham apenas com um encarte simples com o nome das músicas, foram posteriormente adicionados fotos dos artistas, os Beatles ajudaram a popularizar a capa e o encarte como uma forma de arte que anda em paralelo ao conteúdo em si.


Groselhas

 

Por conta desse histórico pra mim o vinil é a cara de obras com storytelling. Aquele disco que conta uma história e que pode ser visto com início meio e fim, onde você lê o encarte e acompanha as letras, pesquisa sobre o significado de cada música.

 

Dito isso clássicos como Sgt. Peppers, Tropicália, Clube da Esquina ou The Wall são perfeitos em vinil, discos pra passar a tarde ouvindo e mergulhando na experiência criada por aquele artista como um todo.



Fita K7




 

As fitas cassete, ou k7 porque cassete não soa muito bem em português, foram criadas ainda nos anos 60. Elas não eram um substituto pro vinil, mas sim uma forma mais portátil de se gravar e ouvir música, pensadas no tamanho de um maço de cigarro pra caber em qualquer bolso.

 

Seu criador, o holandês Ottens, faleceu recentemente em 2021. Ele teve uma enorme influência no desenvolvimento de tecnologias de gravação, pois além criar as K7 ainda convenceu a Philips a não reter a patente para si e participou da criação dos CDs posteriormente.

 

Groselhas

 

A K7 me remete algo mais informal. Enquanto o vinil só poderia ser gravado em um estúdio caro, qualquer um poderia gravar uma fita em casa só com um rádio simples. Por isso K7s são perfeitas pra álbuns mais amadores e intimistas com cara de que foi gravado em uma garagem, quanto mais sujo e imperfeito o áudio melhor.

 

Sendo assim bandas indie como funcionam perfeitamente em fitas, um ótimo exemplo seria a banda fictícia de Scott Pilgrin o Sex Bob-omb, eles têm o ar prefeito de banda de garagem, inclusive nós gravamos uma aqui em casa com a trilha sonora do filme

 

Álbuns de punk também tem a cara das K7 com uma minutagem que não chega nem a ocupar os dois lados da fita como  Sex Pistols.

 

Outra categoria seria a de álbuns que parecem ter sido gravados na rádio de casa e endereçados pra um romance em potencial, por aqui eu tenho o Recomeçar do Tim Bernardes que parece ter sido pensado pra esse formato.

 

Falando em gravar em casa esse é um grande diferencial das fitas. Não é preciso ficar preso a álbuns específicos, é possível transformar qualquer playlist de Spotify em uma K7, combinando especialmente com playlists de viagem de carro pra ouvir na estrada.



CDs



Os CDs começaram a ser desenvolvidos pela Phlips e pela Sony ainda na década de 1970. A proposta era criar uma mídia mais compacta que o vinil e que dispusesse de mais tempo de gravação. Mas o CD só veio a se tornar popular no final dos anos 90 com a chegada dos Discman, se tornando quase um símbolo da entrada do novo milênio.

 

Os CDs eram portáteis, tinham muito mais capacidade e ainda eram prateados/holograficos, podiam ser lidos em computadores ou ainda nos super tecnológicos aparelhos de som 4 em 1 com lugar pra 5 CDs ao mesmo tempo, nada poderia ser mais futurista do que isso. Os Cds se popularizaram muito rapidamente, a impressão da época era que seria o fim definitivo dos vinis, sendo substituídos por uma mídia infinitamente superior e quem sabe definitiva.

 

Mas sabemos que não foi bem isso que aconteceu. Nessa época muita gente deu fim em suas coleções de vinil acreditando se tratar de algo ultrapassado, trocando tudo por uma coleção de CDs.

 

Os anos passaram, os CDs também se tornaram obsoletos frente as mídias digitais e bom, o vinil voltou. A realidade é que com o passar dos anos se percebeu que os vinis eram muito mais resistentes que os CDs, enquanto muitos CDs com pouco mais de 10 anos já apresentavam problemas, vinis com 30 anos ou mais ainda tocavam perfeitamente, se tornando um item de desejo de quem ainda queria ter mídia física.  Pobre de quem descartou coleções com itens que hoje alcançam valores altíssimos no mercado.

 

Nesse ponto acho que ficou claro que eu não sou a maior fã de CDs, admito. Porém, ainda assim, eu acho que eles tem seu devido espaço na prateleira.

 

Acredito que o que mais combine com CDs são justamente os álbuns lançados nos anos 2000, com aquela cara de coisa futurista metalizada. Pop como Britney Spears tem a pura cara de um CD bem cheio de glitter e com um encarte cheio de fotos. Mas pra mim o ápice dos CDs, que ainda pretendo adicionar na minha coleção (quando achar em um sebo pelo valor máximo de R$5) são os clássicos Summer Eletrohits, a memorável coleção dos maiores hits eletrônicos que tocavam incessantemente nas rádios nessa época, seria um crime ter essa pérola em qualquer outro formato.


Faixa bônus - Mini Disc




Provável que a maioria nunca tenha ouvido falar do Mini Disc ou MD, porque a realidade é que ele não vingou mesmo. Lançado pela Sony em 1992 ele consistia em um pequeno disco dentro de uma embalagem quadrada, lembrando bastante um disquete, tinha como proposta substituir as fitas K7 e ser mais portátil do que o CD. Embora tenha feito algum sucesso na Europa e no Japão acabou nunca alçando a popularidade.

 

Mesmo sendo o azarão da lista o MD ainda assim tinha vários pontos positivos interessantes como um formato super bonito e futurista, tocadores criativos que mesclavam a portabilidade com um dock fixo e a possibilidade de edição das faixas no próprio tocador, o que o tornou razoavelmente popular em algumas rádios.

 

Não sei se existe um gênero que combine com esse formato especificamente, até por ele nunca ter sido popular, mas eu apostaria em algo eletrônico e futurista como Daft Punk, quanto mais parecer ter saído de um futuro distópico tecnológico melhor.

 

Ainda hoje existem entusiastas e colecionadores dos MD, até porque o formato se mostrou bastante resistente ao tempo. Desde que conheci fiquei fascinada e pretendo adicionar alguns na minha coleção um dia.



O perfil Technostalgism tem uma série mostrando os tocadores de mini disc mais legais já lançados

 

E essas foram algumas groselhas sonoras. Deixando claro que eu amo ouvir música no digital também, meu Spotify passa o dia ligado, mas a realidade palpável da mídia física tem um charme insuperável.

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