
Eu sempre gostei de criar coisas, desde criança eu passava horas desenhando, fazendo recortes, editando vídeos, criando maquetes ou roupas para as minhas bonecas, criar sempre foi o que consumiu meu tempo e minha cabeça. Na adolescência eu entrei no curso de comunicação visual onde aprendi o que era design, também nessa época comecei a pegar minhas primeiras encomendas de retratos em aquarela.
A partir desse ponto o que antes eu amava como hobbie se tornou um trabalho e acho que é aqui que as coisas começam a ficar mais complexas. Quando criar se tornou algo acadêmico e profissional eu aprendi regras, muitas úteis é verdade, como por exemplo quais cores fazem contraste com outras ou desenhar perspectivas ̶(̶m̶e̶n̶t̶i̶r̶a̶ ̶i̶s̶s̶o̶ ̶e̶u̶ ̶n̶u̶n̶c̶a̶ ̶a̶p̶r̶e̶n̶d̶i̶)̶.
Criar se tornou algo esquematizado e polido, por vários anos minha criação era dessa forma. Profissionalmente não existe muita escapatória, trabalhar com criatividade exige organização e conhecimento dos processos, mas e pessoalmente? Porque o meu trabalho pessoal contínua existindo, a criação comercial nunca é o suficiente e esse é o limbo que todo profissional da área se depara em algum momento. Como lidar com seu trabalho pessoal quando criar é aquilo que paga as suas contas?
Eu demorei muito tempo tentando chegar nesse equilíbrio e até hoje ainda tento. Passei anos aplicando na minha criação pessoal uma lógica de perfeição que foi duramente aprendida com o trabalho profissional. Até que um dia eu percebi que eu não tava mais me divertindo com aquilo, acabava me perdendo tentando chegar em um resultado idealizado. Mas então qual era o sentido? Porque criar algo pra você se objetivo final não é apreciar o processo do que se faz?
Esse questionamento ressoou por um bom tempo na minha cabeça e ele me fez mudar totalmente o que eu fazia e como eu encarava meu trabalho. Vi que eu não gostava de pintar realismo e hoje eu só crio ̶d̶e̶s̶e̶n̶h̶o̶ ̶f̶e̶i̶o̶ aquilo que me deixa feliz em fazer, ao menos pessoalmente.
Admito que eu ainda tenho problemas em largar o perfeccionismo, mas é um trabalho constante. Meu processo foi um fruto de sempre ter lidado com criação, mas na verdade esse é um recado pra quem tá começando algo novo também. Quando se aprende alguma coisa por hobbie não existe nenhuma obrigatoriedade daquilo ser bom.
Renegue as regras e a perfeição ao trabalho profissional e se permita aproveitar o processo de aprender algo novo, mesmo sendo ruim naquilo. Criar pra si é no final sobre ter liberdade, é claro que regras são úteis pra te guiar no começo, mas fora as de segurança, elas são totalmente opcionais.
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